domingo, 25 de setembro de 2011

Diário do Contador por Laís Melo


Bem, primeiro dia de contação! Mil dúvidas na cabeça... A princípio, pensei em como seria, qual livro escolher... concluí: nada como a escolha! Essa foi minha palavra de ordem. Resolvi escolher três livros que eu gostasse um dia antes na biblioteca (no caso,  “O pequeno polegar”, “O mundo perfeito” e “O homem invisível”), com temáticas diferentes, pra que as próprias crianças pudessem escolher. Foram 5 grupos com 6 crianças, e escolhemos a ordem em que cada  grupo iria participar.
Minha idéia era fazer uma apresentação no começo, para que eu conhecesse meus colegas de leitura. No primeiro grupo, seis meninas. Depois de tanto enfeitarem seus nomes ao escrevê-los, fomos à votação: escolheram “O pequeno polegar”. Elas interagiram muito com a história: caras de espanto e desaprovação quando o pai ia abandonar os filhos na floresta. Mas ao perguntar o que elas achavam que os pais sentiam, elas diziam que eles estavam tristes por terem que abandonar os filhos. No final da história, elas insistiram por outra, e pela impossibilidade de tempo, combinamos em reler em velocidade máxima o livro. Elas morreram de rir.
O outro grupo, também escolheu “O pequeno polegar”. Achei incrível como a fábula realmente tem algo que os prende. Durante a leitura, perguntando sobre o que eles achavam que ia acontecer vendo as figuras, eles (os que se sentiam mais à vontade) prontamente respondiam. No final, perguntei se tinham pensado em um final diferente e eles parecem ter ficado satisfeitos com o final da história.
O terceiro grupo foi o ápice da manhã. Como os outros grupos, escolheram onde iriam fazer a leitura. Escolheram a biblioteca e ao chegarmos lá, o grupo se dispersou. Começo do meu desespero de principiante. Por fim, eles ainda se organizaram para se apresentar, mas depois disso, cada um por si: dois pegaram livros de fósseis; outro, um livro do Machado de Assis, as meninas exploravam a biblioteca, variando entre os livros e alguns objetos na biblioteca. “Como fazer?”, pensei.  Sugeri, como nos outros grupos que escolhêssemos um dos três livros. Os meninos queriam ler os livros que tinham escolhido e as meninas estavam querendo escolher uma das minhas opções, mas a biblioteca estava muito mais interessante.
Tentei conversar com o grupo que precisávamos fazer uma escolha diante de tantos interesses, que todos decidissem para “o bem de todos”. PÉÉÉ! Resposta errada. Ao mesmo tempo em que sugeria uma decisão conjunta, e que as meninas se revoltavam com a “rebeldia” dos meninos de estarem irredutíveis quanto a ler os livros que tinham escolhido, eu pensava... (*ps: pensei, paralelamente, em como somos ensinados desde pequenos a valorizar o obediente e não o que propõe uma outra idéia). Como um insight, que deveria simplesmente ter sido um pensamento natural, pensei: “Muito bem, Laís! (ironicamente)... você está fazendo exatamente o contrário do que se propôs a fazer aqui! ...fazendo os meninos que estão com o interesse em um livro específico terem que deixar o livro deles pra ouvir VOCÊ com um livro que eles não querem ler!Esse é um momento da leitura e não de você protagonizar a leitura!”
Resolvi então combinar com os meninos que eles iam ler o que escolheram e que eu estaria ali lendo o livro com quem quisesse ouvir.  No fim, as meninas elegeram “o homem invisível”, e enfim, comecei a ler... pra mim mesma. Até elas desistiram... então resolvi retomar a conversa pra que nós decidíssemos o que era melhor, um novo livro, quem sabe. Elas disseram que aquele estava bom, então, recomecei-o, mesmo sem nenhuma companhia efetiva. Mas percebi que conforme a história seguia, tanto os meninos com seus livros, quanto as meninas com os objetos da biblioteca, paravam pra dar uma olhadinha no próximo acontecimento do livro. Fiz uma pergunta aqui e outra ali, e eles interagiram aqui e ali. Notei o tanto que é importante também virar o livro totalmente pra eles, pra que pudessem acompanhar as figuras e a história como um todo.
O penúltimo grupo escolheu “O pequeno polegar” depois de uma votação acirrada. Acho que consegui explorar melhor determinadas emoções durante o livro, situações que eles já tinham passado; e eles exploraram bem esse espaço, contaram várias histórias pessoais.
Por fim, o último grupo era formado exclusivamente por meninos. Não sabia se saberia lidar com isso, baseada em todas as histórias de que meninos juntos se transformam em pestinhas. Doce surpresa... após a apresentação deles, eles elegeram “O mundo perfeito” e ao iniciar a contação houve silêncio e atenção absoluta a cada detalhe! Com as perguntas, alguns pareciam até cair da nuvem de imaginação. A participação deles foi ótima e em alguns momentos bem engraçada, com algumas sugestões inusitadas do que viria a seguir.
Foi isso. O contato inicial, apesar de ter- me feito pensar em várias novas questões, me aliviou um pouco a respeito de outras. 

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