sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Diário do Contador por Ana Carolina Maia

    
    Estou contando histórias faz três semanas e já tenho a certeza de que a contação não modifica somente as crianças, eu já me sinto transformada.
    É uma espécie de reencantamento. Desde o momento da escolha do livro até o momento de compartilhá-lo com as crianças algo fantástico faz com que a magia e a liberdade de criação da infância me atinjam novamente.
     Meus dias agora passaram a ser mágicos! Posso voar, viajar por terras distantes, posso ser o que eu quiser a qualquer instante! Os livros também criam vida, os personagens saltam das páginas e com eles construo cada dia uma história diferente.
     Semana passada, compartilhei a história de Perséfone e Hades, de um livro chamado “ Mitos Gregos”. Ela conta quando Hades, o senhor dos mortos, se apaixona graças a uma flecha atirada por Afrodite, a deusa do amor. Seu amor é direcionado à Perséfone, filha de Deméter, a deusa das colheitas. Hades no entanto, captura Perséfone e a leva para viver com ele, enquanto a mãe fica a sua procura. Furiosa, Deméter ameaça acabar com as colheitas e com a vida na terra. Zeus envia Hermes, o mensageiro para ajudar Deméter a buscar sua filha. Assim, ela e Hermes partem para o mundo inferior. Lá, a mãe que esperava encontrar a filha triste e assustada, se depara com Perséfone feliz. A moça diz que não quer voltar e diz que se casou com Hades e que o ama. Dessa forma, para não desapontar nem a mãe nem o marido, Perséfone decide passar seis meses com Hades e seis meses com a mãe. Deméter, quando está com sua filha, faz as árvores se encherem de flores, a grama fica verde, o sol brilha, os pássaros cantam, é a primavera. Porém quando Perséfone se vai, as folhas murcham e caem, nuvens tenebrosas aparecem, tudo fica frio e escuro, ao que damos o nome de inverno.
      A partir dessa história, propus às crianças de olharmos pela janela e perguntei com quem elas achavam que Perséfone estava naquele instante. Umas responderam que, como havia sol e como o céu estava azul, ela deveria estar com a mãe. Outra apontou para uma árvore seca e sem folhas e concluiu que Perséfone estava com o marido. No final, elas chegaram a um consenso de que Perséfone estava com a mãe, portanto, já estava quase na hora de ir embora e a mãe já estava sentindo saudade fazendo com que algumas nuvens nublassem parte do céu e com que a árvore ficasse seca.
     Depois de compartilhar essa história, todas as manhãs, olho pela janela e me pergunto: "com quem Perséfone estará hoje?". É uma forma muito mais encantadora de ver o tempo do que habitualmente fazemos.

      E então? Vamos nos reencantar?

Um comentário:

Eileen disse...

Amei!! Lindo seu texto!