sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Diário do contador por Ana Beatriz Novelli



         Hoje, dia 3 de novembro, decidi fazer um pacto com as crianças. Após a turbulenta sessão da semana passada, falei com a professora e ela me ajudou a separar os grupos novamente.
        Queria explicar às crianças o que tinha acontecido na contação passada, obviamente desagradável a todos. Propus a todos (assim que sentavam para a leitura do livro) um pacto: quem não quiser prestar atenção na história não é obrigado. Quem não tivesse a fim de ler podia ficar no cantinho fazendo outra coisa desde que não atrapalhasse quem quisesse ouvir as histórias. O pacto foi bem recebido e selamos com um "sim" coletivo. Assim voltei a ler  o livro "Vinda com a neve" com o primeiro grupo. Recomeçaram as reclamações e aquilo pra mim foi a gota d'água. Exclamei bem alto: "vamos todos a biblioteca! Vamos achar um livro bem legal pra lermos". E esse foi o fim do meu sonho de ler "Vinda com a neve" para as crianças. Ninguém pode dizer que não insisti!
          O primeiro grupo escolheu após uma votação um livro ritmado muito interessante chamado "A moça e a mosca", de Angela Leite, cheia de versinhos e trava-línguas. Descobri com esse livro a melhor dica de todos os tempos: leitura compartilhada! Com a ajuda de todas as crianças, cada uma lendo um versinho, conseguimos terminar o livro todo com muitas risadas. O conteúdo da história em si não oferecia muito de enriquecedor às crianças, mas os trava-línguas... Esses sim apresentavam um desafio gigantesco!
           Ainda deu tempo de ler outro livro, também de forma compartilhada, chamado de "Mamãe nunca me contou", de Babette Cole. Esse livro não possuía história - todas as frases eram compostas de perguntas como "por que alguns adultos têm cabelo nas orelhas e no nariz, mas nem um fiozinho na cabeça?" e "por que algumas mulheres preferem se apaixonar por mulheres e homens namoram outros homens?". Senti que esse livro oferece um potencial de debate fantástico, mas não conseguimos explorar todas as ideias que ele trás por falta de tempo. Vale a dica de leitura!
           O segundo grupo, também levado à biblioteca atrás do exemplar perfeito, quis ler apenas o livro de Babette Cole. Dessa vez conseguimos aprofundar um pouco mais no livro e muitas crianças trouxeram suas experiências pessoas para o debate.
     O terceiro grupo escolheu um livro diferente quando levado à biblioteca: "Murucututu, a coruja grande da noite", de Marcos Bagno. O livro é bem legal, mas o que atraiu mesmo a atenção de todos foi o nome Murucututu. Ficamos um bom tempo tentando falar várias vezes esse nome sem errar. Foi difícil. Dessa vez eu li sozinha, mas recebi a atenção de quase todos os presentes. No final também lemos o livro de Babette Cole.
         O quarto grupo não queria saber de leitura. Quando eu comentei sobre o pacto uma menina perguntou se ele já estava valendo. Quando eu disse que sim houve uma debandada geral pro lado dos fantoches e não sobrou ninguém para a contação. Não quis me deixar abater e criamos na hora uma história com dois tucanos fantoches (Gabi e Tomás) que fugiam dos caçadores e ganhavam a disputa pela liberdade.
       O quinto grupo preferiu ler Murucututu também. Eu li sozinha e nós foliamos rapidamente o livro de Babette Cole por falta de tempo.
        Percebi uma grande melhora na atenção de todos com essa nova estratégia da leitura compartilhada. Os alunos ficam ansiosos para ler sua parte e prestam mais atenção no que o colega lê. Por enquanto vou continuar utilizando essa técnica que se mostrou bem sucedida. Espero que meu relato tenha encorajado àqueles que pensam em desistir por causa do caos criado pelas crianças às vezes. Na maioria dos casos vale a pena insistir. O abraço de agradecimento após uma boa contação consegue ser melhor do que todos os estresses juntos e potencializados em um milhão. :)

Final feliz!


2 comentários:

Mariana disse...

Bia, também estive tendo problemas com brigas durante algumas contações. Gostei muito do seu post!

Olha que engraçado, tem-teve um grupo de contação de histórias de Sp chamado Projeto “Murucututu Contadores de Histórias no Hospital”! hehe

Livros Abertos: Aqui Todos Contam! disse...

Bia, muito obrigada pelo seu post! Uma ótima contribuição para todas as mediadoras!! :)
Murucututu é mesmo difícil de falar, fiquei brincando de repetir com Ian, kkkk....